Bairro Vivo lança manifesto contra a permanência da via elevada que marca o centro de São Paulo
mar 24 2024
Como uma das percussoras de defesa do ambiente urbano na cidade de São Paulo, o Instituto Bairro Vivo se engaja na luta contra a permanência do Minhocão, o nome vulgar dado ao antigo elevado Costa e Silva, renomeado Jango Goulart na gestão petista de Fernando Haddad.
O Instituto é sucessor da Associação de Moradores de Higienópolis, Vila Buarque e Pacaembu, responsável pelas primeiras ações civis públicas exigindo prévio estudo de impacto ambiental para o licenciamento de Shopping Centers, bem como pioneira na implementação do serviço de zeladoria urbana na cidade de São Paulo.
Agora, o Instituto irá combater a articulação encetada junto à municipalidade, de “transformar o minhocão em “Parque”.
Leiam o manifesto do Presidente Edison Farah:
MANIFESTO
Aos paulistanos, por uma cidade sadia!
MINHOCÃO: violência urbanística, quiçá a mais destrutiva entre tantas outras que destruíram e destroem esta infeliz metrópole.
1- Por ocasião da sua construção todos os urbanistas sérios e honestos, e toda a população, posicionou-se radicalmente contra tamanho descalabro que, numa tacada, destruiu uma das mais tradicionais regiões desta cidade.
2- Tudo o que se seguiu em degradação ambiental, urbanística, e social é do conhecimento de todos, e, portanto, ocioso se repetir aqui.
3– Todas as administrações municipais que se seguiram desde 1975 cogitam soluções para reverter este mal, e se recuperar esta importante região de São Paulo.
4- Como advogam todos os urbanistas sérios e comprometidos com o bem comum, não há qualquer solução que seja efetiva e correta que não a demolição pura e simples deste horror, como já o fizeram tantas outras grandes cidades pelo mundo afora, para correção destes equívocos urbanísticos perpetrados para atender à sanha de lucro fácil do capital predatório que predomina na indústria da construção civil, capital este que tem em São Paulo seu maior repasto. São Paulo hoje, como prevíamos já há 50 anos atrás, não é mais uma urbe, transformada que foi num acampamento, num acampamento de desesperados, meticulosamente tecido pelo capital criminoso da especulação imobiliária que subordina desde sempre o poder nesta cidade.
5- Elencamos aqui alguns argumentos técnicos que embasam, sem subterfúgios sofísticos, a correta solução que é a demolição desta excrecência:
5.1. A estrutura está condenada para o uso a que foi projetada.
Especialistas em transito através estudos já realizados, afirmam que o viaduto, além de dispensável ao sistema viário da cidade de São Paulo, atua como um gerador de trânsito. Ao contrário do que muitos imaginam, estudos recentes apontam a diminuição da frota de automóveis no mundo. Isto se deve à internet através de atendimentos e vídeo conferências online, transporte compartilhado, incentivo, conscientização e melhoria em vários outros meios de locomoção.
5.2. O novo plano diretor da Cidade determina que este viaduto seja totalmente paulatinamente desativado como via de trânsito de veículos automotores.
5.3. A estrutura deste viaduto jamais recebeu a manutenção necessária e isto causou deterioração acelerada. Facilmente constatado no local, infiltrações, trincas, rachaduras e ferragens expostas colocam em risco a vida de motoristas e pedestres diuturnamente.
5.4. Qualquer projeto para preservação deste equipamento exigirá soma vultuosa para sua reforma e adaptação. Além de perpetuar eternamente o empenho de recursos do município em sua manutenção.
5.5. Trata-se de construção em total desrespeito às normas relativas ao recuo e limites entre construções, previstas nas leis de zoneamento da Prefeitura da Cidade de São Paulo.
5.6. A falta de recuo transforma a parte inferior desta construção em uma verdadeira câmara de gás. O gás quente dos escapamentos sobe, bate no teto da estrutura fria e desce em forma de fuligem. Uma agressão constante aos que moram ou transitam pela região.
5.7. O barulho em baixo do minhocão é ensurdecedor. Várias mídias já tentaram entrevistar pessoas no local, missão impossível. A estrutura em forma de caixa causa reverberação dos ruídos a níveis insuportáveis. Para se comprovar basta medir os decibéis em qualquer hora do dia ou da noite.
5.8. As colunas que sustentam o viaduto obstruem o trânsito de bicicletas e pedestres na ciclovia implantada no local. O uso da bicicleta e incentivo à caminhada têm fundamental importância na redução do trânsito e de poluentes na região, e isto deve ser priorizado.
5.9. As alças do viaduto ocupam, mutilam e desfiguram várias praças, largos e larguinhos num eixo extremamente carente de áreas verdes. Largos que mantinham exemplares da fauna e flora da Mata Atlântica foram esmagados pela construção desta estrutura, criando espaço inclusive para implantação de garagem de ônibus. Troca injusta, não?
5.10. Quanto à recuperação urbanística da região, hoje densamente povoada e transitada, há absoluta leniência da Prefeitura. O desmonte do viaduto devolverá à região suas características originais. Todo o percurso do Elevado é um eixo com beleza arquitetônica já atestada pelo município com várias edificações em processo de tombamento pelo patrimônio histórico. A região não necessita de atrações ou investimentos para fomentar sua ocupação ou frequência. A retirada da estrutura devolverá a ótima qualidade de vida antes compartilhada pela população.
5.11. O fenômeno “ilha de calor”, e todas suas consequências negativas, tem como causa principal estruturas como esta. Absorção de calor e solo impermeabilizado afetam toda a cidade: secas, falta de umidade relativa do ar, e enchentes, causadas pelas chuvas, causam enormes prejuízos à cidade. Se nada for feito em relação a estas estruturas erradas, os nossos problemas se agravarão e se eternizarão.
5.12. Com a remoção da estrutura abre-se espaço no canteiro central e nas calçadas das avenidas para o replantio de milhares de arvores nativas da Mata Atlântica, criando assim um longo corredor verde interligando parque, praças, largos e larguinho. Um avanço gigantesco em relação à recuperação e preservação do ecossistema na região central de São Paulo.
5.13. O desmonte do viaduto devolverá aos moradores, que têm hoje suas janelas e varandas invadidas por automóveis, bandidos e curiosos, os seus direitos à luz do sol, silêncio, ar apropriado, e privacidade.
5.14. A cidade terá resgatada parte de sua história. A Avenida São João tem sua importância histórica retratada em versos e prosas. Já foi, e continua sendo, importante polo cultural de nossa cidade. Os mais tradicionais cinemas, teatros, cafés e restaurantes estavam nesta área. A região tem no seu DNA cultura, gastronomia e turismo, atrações maravilhosas enterradas atualmente por um equipamento imposto e mantido de maneira irresponsável e equivocada.
5.15. A remoção desse monstrengo restabelecerá a salubridade ao longo das Avenidas Amaral Gurgel e São João, e Praça Marechal Deodoro, e trará de volta à região comerciantes e investimentos para ocupar centenas de imóveis simplesmente fechados ou até abandonados.
5.16. Em relação aos custos por um projeto para o desmonte do minhocão deveremos levar a discussão para as faculdades de Engenharia e Urbanismo para elaboração de um correto orçamento. Alegar que o município não dispõe de recursos para isso é de um cinismo inaceitável, na medida em que se destina investimentos milionários para atendimento dos interesses da especulação imobiliária, em operações urbanas engendradas por grupos do capital imobiliário que dominam o Executivo e o Legislativo municipais.
5.17. Urbanistas, e ambientalistas de escol como Sérgio Ejzenberg, Kazuo Nakano, Carlos Lemos, Benedito Lima de Toledo, Michel Gorski, Carlos Miller, Regina Meyer, Raquel Rolnik, Valter Caldana, Flamínio Fichmann, Antônio Fernando Pinheiro Pedro, entre outros: TODOS DE ACORDO QUANTO À DEMOLIÇÃO!
A SOLUÇÃO CORRETA, HONESTA E DEFINITIVA, É O DESMONTE DESTA ESTRUTURA ANÔMALA E PERNICIOSA À ECONOMIA DA CIDADE.
Assinado por Edison Farah, presidente do Instituto Bairro Vivo